Mudanças nas fronteiras do território Africano durante os séculos XIX e XX

Este website reúne informações sobre as mudanças das fronteiras no terrriótrio africano no decorrer dos séculos XIX e XX. Mostrando a África antes da colonização, durante a partilha e a Conferência de Berlim, e como os povos que ali viviam ficaram divididos após a colonização.
  1. África pré-colonial

    Antes da chegada dos invasores/colonizadores europeus, o continente africano, ao contrário do que postula o senso comum, apresentava uma grande diversidade cultural. Do ponto de vista político, os povos que ali viviam não estavam distribuídos em tribos espalhadas por seu território e isoladas entre si, mas organizadas politicamente, em alguns lugares constituindo verdadeiros impérios, não necessariamente nos moldes europeus.

    Nesse contexto, antes da chegada dos europeus, os povos africanos estavam organizados em clãs e reinos, havendo uma enorme diversidade entre elas, tanto nos aspectos físicos, sociais e culturais. Além do mais, entre todos os povos africanos existia um farto e dinâmico comércio.

    Se podemos falar em “isolamento dos povos africanos”, esse era somente social, por não sofrerem influência dos povos asiáticos e europeus. Com o passar do tempo, as tribos alcançaram níveis de organização complexa, que causaram espanto nos primeiros europeus que chegaram ao interior da África.

    Os principais povos da África antes da partilha eram os: povos de origem haussá e ioruba, agricultores e pastores, mas que também praticavam um grande comércio com os árabes; por sua vez, havia também os bantos e povos vindos da Indonésia, influenciados pelo islamismo, que expandiram seus domínios conquistando inclusive as ilhas como Madagáscar.

    Por sua vez, na região da África Ocidental Francesa, da África Equatorial Francesa e da Nigéria, antes da colonização viviam os Sudaneses. Na região do Sudão Anglo-Egípcio, viviam os Nilóticos. Na região da Tanganica, leste da Ruanda-Urundi e leste Congo Belga, viviam também os Bantos. Na região da Rodésia do Sul viviam os Bosquinianos. Na região da Bechuana Lândia viviam os Hotentotes. Na região da Angóla e Rodésia do Norte viviam os Pigmeus.

    Enfim, as áreas submetidas ao colonialismo na África possuíam uma longa tradição de resistência contra a presença europeia desde o século XIX. Além da existência de um sentimento proto-nacionalista, essa resistência muitas vezes também foi movida por ideias religiosas, que se transformaram em instrumentos de resistência.

  2. Partilha da áfrica

    A partir do final do século XVIII, e ao longo do XIX, o desenvolvimento industrial europeu estimulou a busca de novos mercados consumidores de produtos industrializados e fornecedores de matéria-prima. As novas ações colonialistas levaram os europeus a invadir e controlar diretamente grande parte do território africano.

    Inglaterra, França, Bélgica, Alemanha, Itália, e Portugal foram os países com participação mais ativa na chamada “Partilha da África”. Por conta disso grande parte dos escritos deixados, teria sido produzida por militares, administradores ou missionários destes países. Além dos países com participação mais ativa, também participaram, Noruega, Espanha, Áustria-Hungria, Dinamarca, Suécia e os países baixos.

    Os regimes de exploração variavam de acordo com a região e com as intenções de cada potência europeia. Às representações do passado associaram-se concepções evolucionistas e deterministas do darwinismo social, que colocava os africanos nos últimos degraus da “evolução” das “raças” humanas.

    Essas teorias norteariam as representações elaboradas sobre os africanos do século XX em diante. A dominação colonial, a imposição da fé cristã, dos valores e padrões culturais europeus seriam justificados pela suposta inferioridade biológica, mental, cultural e espiritual. Povos como Pigmeus, Hotentotes ou Bosquímanos representariam o chamado “elo perdido”, ou seja, a ligação evolutiva entre o homem e os macacos.

    Um dos momentos decisivos para a Partilha da África, foi a Conferência de Berlim (ocorrida entre 1884 e 1885), onde as potências europeias estabeleceram acordos pacíficos para a disputa de territórios. A conferência estabeleceu alguns parâmetros para a invasão e conquista de outros povos. Em primeiro lugar, a vontade do Rei Leopoldo II da Bélgica de criar uma colônia na região do Congo, que era muito cobiçada por outros países. O segundo motivo, foi um mapa apresentado por Portugueses, o chamado “mapa cor-de-rosa”, em função das pretensões portuguesas receberem esta cor. E em terceiro e quarto lugar, as intenções expansionistas dos Franceses, que pretendiam atingir territórios do norte da África e a intensão dos Ingleses em fazer dos rios Níger e Congo uma área de livre navegação, em função de seus interesses comerciais.

    A conferência não ‘dividiu’ a África em blocos coloniais, mas admitiu princípios básicos para administrar as atividades europeias no continente, como o comércio livre nas bacias dos rios Congo e Níger, a luta contra a escravidão e o reconhecimento da soberania somente para quem invadisse e ocupasse efetivamente o território reclamado. As potências europeias deveriam ocupar a quinhão seu território desejado, o que fez com que gerasse uma corrida maluca em que cada um desejasse um pedaço maior do “bolo”.

    O método de ocupação dos europeus foi o chamado “dividir para dominar”, onde se aliavam a um grupo étnico de uma determinada região, fornecendo armas e meios de subjugar os rivais. Com isso, controlavam a população inteira. Além disso a corrida imperialista não foi pacífica, os colonizadores utilizavam da violência com a população, usando a exploração pela força e submissão racial.

    A intensificação do processo de dominação fez com que as potências europeias começassem a disputar os territórios mais ricos em matéria-prima, o que fez com que se tornasse um ambiente instável, fazendo com que esta corrida para conquistar fosse também um dos motivos para a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

    Nesse contexto, a França ficou com as colônias: África Ocidental Francesa, África Equatorial Francesa, Argélia e Marrocos - que hoje são Marrocos, Argélia, Mali, Níger, Mauritânia, Chade, República Centro Africana, entre outros. A Grã-Bretanha ficou com as colônias: Rodésia do Norte, Rodésia do Sul, Bechuana Lândia, União Sul-Africana, Nigéria, Uganda, Quênia, Costa do Ouro, entre outros - que hoje são Zâmbia, Zimbábue, Botswana, África do Sul, Nigéria, Gana, Quênia, etc. A Bélgica ficou com as colônias: Ruanda-Urundi e Congo Belga - que hoje são República Democrática do Congo. A Espanha ficou com as colônias: Saara Espanhola, Guiné Espanhola, entre outros - que hoje são Guiné Equatorial e Saara ocidental.

    Devido ao Tratado de Versalhes, após a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha perdeu suas colônias africanas. Por fim, os territórios da Libéria e da Etiópia foram os únicos sem o domínio europeu.

  3. África pós-colonial

    A partir do período do neocolonialismo (final do século XIX), as disputas entre os europeus para dominar os territórios do continente africano, isto é, para dominar recursos naturais e mercados consumidores, acabaram ocasionando e resultando na 1° Guerra Mundial. Esse processo e o desgaste da guerra fez com que as potências europeias perdessem parte de seu poder, tornando os Estados Unidos, que já vinham se desenvolvendo e se industrializando, em uma das maiores potências mundiais.

    Além da guerra, em 1929 ocorreu uma forte crise, que aprofundou os problemas sociais e econômicas dos países europeus, que vinham se recuperando da guerra. A crise repercutiu principalmente na vida dos colonos africanos que viviam em situação precária, o que propiciou um clima para revoltas e greves, fazendo crescer um sentimento de liberdade, que tinha como objetivo a independência de suas terras. Esse sentimento de liberdade crescia a cada ano que passava, mas apenas com o fim da 2° Guerra Mundial esse sonho se tornou palpável e cada vez mais real.

    Por volta da década de 1960, alguns países europeus concederam pacificamente a libertação de suas colônias. Porém, outra parte só conseguiu sua libertação após uma intensa série de conflitos e revoltas entre os nativos e seus invasores/colonizadores.

    As consequências da descolonização legaram à África vários aspectos negativos. Entre eles a instabilidade política e os diversos conflitos entre os grupos étnicos rivais que lá habitavam, assim como acontecia antes da colonização onde os grupos mais fortes dominavam e humilhavam os grupos minoritários. Essa nova onda de conflitos deveu-se ao fato que muitas fronteiras artificiais, estabelecidas pelos europeus, permaneceram existindo após a descolonização, deixando em um mesmo território grupos rivais.

    Nesse contexto, a divisão feita pelos europeus ocasionou em uma África dividida entre 53 países independentes. Com efeito, muitos desses países, até nos dias de hoje, sofrem as consequências do processo neocolonial europeu, o que faz com que não consigam se pacificar internamente e, com isso, se desenvolver socialmente e economicamente.

    Portanto, hoje, ocorrem muitos conflitos em todo o território africano, devido essencialmente às fronteiras criadas pelos europeus, as quais desrespeitaram a cultura dos povos que habitavam a região, colocando pessoas de diferentes etnias em um mesmo país, contribuindo posteriormente para o surgimento de vários conflitos.